Von der Leyen será a primeira mulher na história da
República Federal da Alemanha a chefiar o Ministério da Defesa
República Federal da Alemanha a chefiar o Ministério da Defesa
Ela teve de
respirar fundo quando a chanceler federal alemã, Angela Merkel, passou-lhe a
responsabilidade pelo Ministério da Defesa, relatou Ursula von der Leyen, com
um leve suspiro. Mas a surpreendente proposta foi aceita com satisfação,
continua. Von der Leyen, de 55 anos, será a primeira mulher na história da
República Federal da Alemanha a chefiar o Ministério da Defesa e, assim, as Forças Armadas.
Opção por Ursula
von der Leyen para comandar o Ministério da Defesa é a maior surpresa do novo
governo Merkel e indica possível sucessora da chanceler federal. Outros países, como
Finlândia, França e Espanha já seguiram há muito tempo por esse caminho. Mas
para a Alemanha isso é uma novidade, e vale lembrar que só desde 2001 as mulheres podem
prestar serviço em todos os setores das Forças Armadas do país, a Bundeswehr.
A conversa com
Merkel se deu há quatro dias. Até lá, Von der Leyen não tinha a menor ideia de
que logo mais estaria no comando de mais de 185 mil soldados. “É uma tarefa
gigantesca”, disse a médica e mãe de sete filhos. “Estou contente, mas tenho um
respeito mortal pela tarefa”, acresceu.
Ninguém no entorno
da até então ministra do Trabalho duvida que, rapidamente, ela irá se
familiarizar com o vasto e complexo campo da Defesa. Nos cargos que exerceu,
nunca lhe faltaram conhecimento especializado e uma energia quase inacabável.
“Este é o quarto ministério que assumo”, comentou sucintamente a ministra,
acrescendo que trazia muita experiência consigo e o conhecimento de como lidar
com um grande aparato administrativo.
Ao lado de Merkel
Ao ser pela
primeira vez eleita chanceler federal, em 2005, Merkel chamou a companheira
política do estado da Baixa Saxônia para chefiar o Ministério da Família. Em
nível estadual, Von der Leyen já havia assumido essa pasta na Baixa Saxônia,
onde seu pai, o político democrata-cristão Ernst Albrecht, foi governador por
vários anos.
Quando, em 2009, o
comando do Ministério do Trabalho vagou, Merkel confiou a pasta a Von der
Leyen. Em 2010, ela foi eleita vice-presidente da União Democrata Cristã (CDU)
e cotada para se candidatar ao cargo de chanceler federal. Ali já estava claro
que Von der Leyen fazia parte do pequeno círculo de políticos da CDU que
poderiam ser empregados em quase todas as tarefas.
No entanto, essa
democrata-cristã magra, eloquente e enérgica frequentemente polariza opiniões.
De forma persistente, ela defendeu uma cota para mulheres na diretoria de
empresas alemãs, como também uma complementação previdenciária para pessoas com
baixos rendimentos, o que não agradou a todos os setores da conservadora CDU.
E nem sempre Von
der Leyen recebeu o apoio de Merkel para os seus planos. Ela também tomou uma
ducha fria da CDU ao receber somente 69% dos votos na reeleição para
vice-presidente da facção. O percentual costuma ficar acima de 90%. Durante as
recentes negociações para a coalizão de governo, cogitou-se que Merkel lhe
ofereceria o extenso Ministério da Saúde. Mas isso não passou de um boato.
Cargo importante e arriscado
Com a nomeação para
o Ministério da Defesa, abre-se para Ursula von der Leyen uma oportunidade de
ganhar experiência também no cenário internacional. Esta pode lhe ser útil
depois que a era Merkel chegar ao fim. A confissão de Merkel – de que já fazia
muito tempo que pensava em fazer de Von der Leyen ministra da Defesa – aponta nessa
direção. Aqui está sendo preparada, provavelmente, uma potencial candidata da
CDU à Chancelaria Federal.
Num passado
recente, o Ministério da Defesa não era necessariamente a primeira escolha para
um político de grandes ambições. O ministério, cujas instalações se dividem
entre Berlim e Bonn, mostrou ser um posto de trabalho com armadilhas.
Negócios
milionários com armas regularmente saem de controle. O fracasso na aquisição do
drone de observação Euro Hawk quase custou o cargo ao antecessor Thomas de Maizière.
Ele não havia percebido em tempo que o caro avião não tripulado nunca seria
capaz de voar. O ministro justificou que seus funcionários não lhe deram
informações suficientes. Assim, a tarefa mais urgente de Von der Leyen será
colocar sob seu controle uma administração rebelde e, em parte, altamente
burocratizada.
Uma nova Bundeswehr
Lidar com tal
aparato será mais difícil do que conseguir o respeito dos soldados. Eles
esperam, sobretudo, o reconhecimento pelo trabalho em missões no exterior e a compreensão
pela frustração que lhes causa a permanente reforma das Forças Armadas.
Desde a
Reunificação, as Forças Armadas estão em reestruturação. Na época da Guerra
Fria, meio milhão de soldados alemães estavam em serviço. O número deve
diminuir para 185 mil até 2017. Para isso foram fechadas instalações, houve a
fusão de comandos e o serviço militar obrigatório foi abolido em trâmite de
urgência.
Desde que as Forças
Armadas alemãs se transformaram numa tropa de voluntários, a Bundeswehr se
esforça para atrair jovens qualificados. Von der Leyen já disse querer prestar
uma contribuição para que as Forças Armadas sejam vistas como um empregador
atraente, com uma boa combinação entre carreira e família.
Depois que a nova
coalizão de governo concordou que não haveria mais reformas na Bundeswehr, Von
der Leyen terá agora que acalmar os ânimos para que o chamado
“redirecionamento” leve a um final feliz.
O mesmo vale para a
retirada das tropas alemãs do Afeganistão, que deverá estar concluída até o
final de 2014. Também a discussão sobre a futura orientação estratégica da
Alemanha não pode ser deixada de lado no Ministério da Defesa.
No conjunto,
trata-se de uma tarefa hercúlea, na qual mais de um ministro já tropeçou.
Assim, Ursula von der Leyen pode ter a certeza que seu trabalho vai ser
observado com muita atenção. Se ela se sair bem também nesse ministério, todas
as portas lhe estarão abertas.
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